Os '30 Berlusconis' do Brasil
(nota: Silvio Berlusconi é um bilionário empresário do ramo da mídia e político italiano. Foi presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro da Itália) da Itália entre 1994 e 1995, de 2001 a 2005, entre 2005 e 2006 e de 2008 a 2011.)
Foi dessa forma que o Repórteres Sem Fronteiras se referiu às sete famílias brasileiras que dominam 90% dos meios de comunicação – a mídia - do país. E a diferença de tratamento aos candidatos à presidência novamente volta a desestabilizar a campanha eleitoral para a presidência.
(nota: Silvio Berlusconi é um bilionário empresário do ramo da mídia e político italiano. Foi presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro da Itália) da Itália entre 1994 e 1995, de 2001 a 2005, entre 2005 e 2006 e de 2008 a 2011.)
Foi dessa forma que o Repórteres Sem Fronteiras se referiu às sete famílias brasileiras que dominam 90% dos meios de comunicação – a mídia - do país. E a diferença de tratamento aos candidatos à presidência novamente volta a desestabilizar a campanha eleitoral para a presidência.
Ao ler os grandes jornais brasileiros pode-se supor que a economia entrou em colapso, não há mais investidores interessados e só há um culpado de qualquer escândalo de corrupção: o Partido dos Trabalhadores (PT). Ao mesmo tempo em que esses meios publicam que a taxa de desemprego caiu para 5%, a mais baixa dos últimos 24 anos, denunciam que os brasileiros têm dificuldade em encontrar trabalho.
Durante a campanha eleitoral presidencial, que neste domingo enfrenta aos candidatos Aécio Neves e Dilma Rousseff, pelo segundo turno, esse quadro vêm se acentuando. O discurso da oposição de Aécio Neves é um claro reflexo dos meios de comunicação: "Agora que eles vêm possibilidades reais do Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) voltar ao poder, o que era um desgaste progressivo normal passou a ser um massacre. A guerra de baixa intensidade é agora um bombardeio indiscriminado ", reclama Guilherme Boulos, professor de Filosofia na Universidade de São Paulo.
O site Manchetômetro publicou na semana passada uma pesquisa referente às notícias favoráveis e desfavoráveis da semana sobre ambos os candidatos que aparecem nos grandes meios de comunicações. Entre os três principais jornais impressos (Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Jornal Globo) as reportagens positivas sobre Dilma foram 4 e, para Aécio Neves, 32. As reportagens negativas para Dilma Rousseff foram 176 e para Aécio, 31. No principal noticiário de TV da noite do país, o Jornal Nacional, a cobertura de notícias de televisão favorável à candidata do PT foi de 4 minutos e 14 segundos. Para o candidato do PSDB chegou a 9 minutos e 52 segundos. Quanto às notícias desfavoráveis, para Dilma Roussef foi de 53 minutos, enquanto para Aécio Neves foram dedicados sete minutos e seis segundos.
Em 2013, a organização ‘Repórteres Sem Fronteiras’ (RSF) publicou um relatório, conhecido como Os 30 Berlusconis do Brasil para se referir às sete famílias que dividem 90% dos meios de comunicação do país. "As características de desempenho dos meios de comunicação impedem o livre fluxo de informação e o pluralismo. O Brasil tem um nível de concentração da mídia desproporcional ao potencial de seu território e a diversidade da sociedade civil", denunciou o relatório.
Os sete grupos de poder dividem-se entre Rio de Janeiro e São Paulo, e muitos deles já existiam antes da ditadura. Alguns, como Globo ou Folha de São Paulo, colaboraram com a ditadura, conforme assinala em sua tese de doutorado sobre a censura da mídia, a historiadora brasileira Beatriz Kushnir.
No setor audiovisual, a família Marinho, proprietária do grupo Globo, ocupa o primeiro lugar. Os irmãos Marinho não são apenas grandes magnatas da televisão e da imprensa brasileira, mas são considerados, de acordo com a Forbes, o clã mais rico do Brasil com uma fortuna que chega a US$ 29 bilhões. Em seguida no domínio do meio audiovisual, vem o grupo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), cujo proprietário Silvio Santos, apresenta o mesmo programa na TV há mais de 40 anos.
A família Saad é responsável pela Rede Bandeirantes e a TV evangélica Record é parte da fortuna do presidente da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo. Em relação à imprensa, o Grupo Globo mantém uma posição privilegiada junto a outros diários como Folha de São Paulo, da família Frias Filho e o Estado de São Paulo, da família Mesquita. A editora Abril, da família Civita, é proprietária de 70% dos semanários do Brasil, com a revista Veja como o carro-chefe do grupo.
"Neste país, os nomes das pontes e estradas são para essas famílias. Existe a Ponte Octavio Frias, a avenida Roberto Marinho e a Praça Victor Civita. Nossas oligarquias dos meios de comunicação são as elites brasileiras, que decidem quem governa o país e aqueles que ficam com os nomes das nossas ruas ", disse a jornalista brasileira Cynara Menezes.
Um inimigo comum
Desde que Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao poder em 2002, o ex-presidente não tem deixado de denunciar os ataques que sofre por parte dos grandes meios de comunicação. “Quem faz oposição neste país é um determinado tipo de imprensa e se dependesse dela , eu teria 0% de aprovação, argumentava na campanha eleitoral passada. Há duas semanas, em outro ato afirmava: “Estou cansado, todos os anos é igual, dizem que o país está quebrado, em crise, usam informações não confirmadas para acusar-nos de corrupção, mas agora está sendo muito pior, pois estão disseminando um ódio contra o Partido dos Trabalhadores – PT, que tem superado todos os limites.”
O cientista político do Instituto de Pesquisas do Rio de Janeiro, Marcos Figueredo diz que a imprensa brasileira tem um duplo discurso. Por um lado presume-se seguir uma linha de jornalismo americano, objetivo, e por outro estão os resultados de suas publicações: "Ao final, o que vemos são diferenças no tratamento a cada candidato, aprofundam algumas questões negativas associadas a Lula ou Dilma, enquanto se mostram benevolentes quando se trata de lidar com questões espinhosas dos adversários que estão na oposição. "
Os ataques não são tão duros quanto as omissões. Durante a campanha atual, a grande imprensa tem insistido no escândalo do desvio de dinheiro pela direção da Petrobras, escolhida por Dilma Rousseff. O diretor está em julgamento e continua a prestar declarações, mas alguns meios de comunicação publicaram novas acusações não confirmadas. Por outro lado, os escândalos de corrupção ligados ao candidato Neves, como a construção de um aeroporto privado na fazenda de seu tio com dinheiro público, ou o desvio de recursos na construção de linhas de trem e metrô em São Paulo envolvendo o PSDB, passam despercebidas.
A reportagem de capa da revista Veja publicada há um mês, ligava diretamente Dilma Rousseff ao escândalo da Petrobras, mas não apresentava nenhum dado para confirmar esta afirmação. Após esta publicação, o jornalista Ricardo Kotscho escreveu em sua coluna no News Record (R7) uma passagem do candidato falecido Eduardo Campos: "Eu não pensava em dizer isto, mas depois da capa deste domingo, eu me lembrei do que disse Campos em 2012. Quando ele entrou no escritório de Roberto Civita, ficou surpreso ao ouvir do proprietário do grupo Abril, a seguinte frase: “Está vendo todas essas capas de Veja? Esta é a única oposição real ao PT, o resto comete apenas bobagens. Só nós podemos acabar com essa gente e iremos até o fim."
O neto de João Goulart, o último presidente brasileiro antes do golpe militar de 1964, saiu em defesa de Dilma, na semana passada: "É incrível a campanha de terrorismo econômico sistemático do oligopólio dos meios de comunicação que buscam desestabilizar o governo Dilma. É muito parecido com o que fizeram com o meu avô ", disse João Alexandre Goulart ao Diário do Centro do Mundo.
Internet é a instrumento utilizado para compensar o desequilíbrio frente aos grandes meios de comunicação. Portais de notícias como o 'Fórum', 'Diário do Centro do Mundo', 'O Cafezinho', ou blogs como 'Conversa Afiada' oferecem uma perspectiva diferente, principalmente do PT. Muitos deles têm em suas redações, jornalistas que trabalharam na grande imprensa e decidiram sair, e outros que trabalharam apenas para meios alternativos. "Eu trabalhei mais de oito anos na Folha de São Paulo e nunca me censuraram, o único lugar onde alteravam meus textos foi na revista Veja. Mas sei de muitos amigos jornalistas que foram demitidos quando seus chefes suspeitavam de que eles poderiam ser do PT ", disse a jornalista Cynara Menezes da revista Carta Capital, a única publicação semanal nacional que se declara favorável ao Governo.
Regulamento da Lei de Imprensa
Um dos cânticos mais entoados durante as manifestações em junho de 2013 foi "Fora Rede Globo". Além de melhorias nos serviços públicos, principalmente educação e saúde, os brasileiros exigiam a democratização das comunicações. Dilma Rousseff prometeu durante a campanha que, se ele fosse reeleita, levará a cabo uma Regulação da Lei de Imprensa. A Constituição de 1988 proíbe a criação de monopólios e oligopólios de mídia, mas até agora ninguém a cumpre.
"De nada adianta agora o PT se lamentar. Tiveram 12 anos para discutir a democratização dos meios de comunicação e não tiveram coragem", disse o professor Guilherme Boulos, acrescentando um artigo do jornal Outras Palavras: "O massacre a que estamos assistindo e vamos ver até 26 de outubro, revela a adesão em bloco da elite à candidatura de Aécio Neves e seu compromisso com a polarização. Se eles vencerem, eles podem consolidar uma onda conservadora no Brasil e na América Latina. Se perderem, pagarão por ter exagerado na dose de polarização, já que isso não é algo que se desfaça com facilidade. " Cynara Menezes está na mesma linha: "Seu inimigo número um é o Lula, e cada vez estão insuflando mais ódio ao PT, e isto está escapando do controle. Como se diz em Espanha, “Cría cuervos y te sacarán los ojos”.
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Tradução da reportagem publicada na Espanha em 25/10/2014 de AGNESE MARRA publicada em:
http://www.publico.es/internacional/552380/los-30-berlusconis-de-brasil
com a colaboração de Carles Martí na tradução.
com a colaboração de Carles Martí na tradução.
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