terça-feira, 29 de setembro de 2015

Chico Buarque: “A música brasileira não exclui, assimila”


entrevista

Chico Buarque: “A música brasileira não exclui, assimila”

No Rio de Janeiro, revela a história de sua família e sua oposição à ditadura



Há apenas uma coisa mais difícil de encontrar do que alguém que fale mal de Chico Buarque no Brasil: uma mulher que não seja apaixonada por ele. Olhos fascinantes de uma cor estranha entre verde, azul e cinza são uma lenda nacional. Suas canções, por si só, já fazem parte da história, da herança e da identidade diária de um povo. Por isso, é um pouco intimidante se aproximar do edifício de um bairro nobre do Rio de Janeiro, onde o cantor mora, e subir no elevador imaginando o que te espera atrás da porta. O que se encontra é um sujeito magro e tímido, simples e sorridente, que esperava sentado sozinho em uma cadeira e assim que vê o recém-chegado o convida para um café que acabou de fazer. A sala de estar de Chico, aberta em três paredes de vidro com vista para várias praias do Rio, goza de uma paisagem deslumbrante nesta bela tarde ensolarada e iluminada de fim de verão. Ao fundo, em um canto, há um violão e um piano, ao lado de uma enorme foto na qual Chico aparece ao lado de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, dois dos lendários criadores da bossa nova.
Sobre uma mesa repousa o novo romance do artista, O Irmão Alemão (Companhia das Letras). Nele, Chico (1944) narra seu choque ao saber, já adulto e de forma inesperada, que seu pai, o famoso historiador Sérgio Buarque de Hollanda, teve um filho na Alemanha, em 1930, quando era correspondente em Berlim para um jornal brasileiro. Nem Chico sabia até então que tinha um irmão na Alemanha, nem esse irmão alemão jamais soube que era parente de um dos cantores mais famosos do Brasil já que morreu, em 1981, ignorando quase tudo sobre seu pai biológico. O escritor disfarça um pouco os fatos, mas nas páginas do romance desfila a São Paulo dos anos sessenta e setenta, menos gigante e desumana do que a atual, e sua própria juventude um pouco desregrada. Também emerge a ditadura sinistra, à qual Chico se opôs desde o início e que o levou a buscar o exílio, em 1969. Mas, acima de tudo, revela a casa da família, repleta de cima a baixo com livros de seu progenitor. Era um pai amável, mas distante, carinhoso, mas distraído, e um pouco ausente, sempre imerso em leituras intermináveis e envolto em uma nuvem de fumaça de um cigarro continuamente aceso. No romance, o protagonista, um sósia do próprio Chico, enquanto folheia um dos livros da imensa biblioteca do pai, nota um envelope perdido entre as páginas que guarda uma velha carta em alemão, que lhe dá pistas sobre aquele irmão que nunca conheceu. Na verdade, a descoberta não foi tão literária.
Pergunta. Quando soube que tinha um irmão?
Com 20 anos, você tem um milhão de ideias para compor. Depois, tudo torna-se mais insípido
Resposta. Soube exatamente em 1967, quando tinha 23 anos. Lembro-me muito bem, inclusive há uma foto desse dia. Vinicius de Moraes, Tom Jobim e eu fomos visitar o poeta Manuel Bandeira, que já estava muito velhinho, em sua casa no Rio. E, então, falando disso e daquilo, Bandeira perguntou por meu pai, de quem era muito amigo: "Como o Sérgio está? Ah, quanto tempo não o vejo, vivemos tantas coisas juntos... Foi para a Alemanha, teve aquele filho...”. E aí soltou isso.
P. O que você fez?
R. Então lhe disse: "Mas que filho?". E aí o Vinicius respondeu: "Mas você não sabia disso, do filho?". E eu: "Não". Eu não sabia nada. Era um segredo de família. Depois daquele dia, falei com meus irmãos e com meu pai. Falei com o meu pai, sim, mas sempre havia uma barreira na hora de perguntar a ele. Escrevendo este novo livro me questionei por que não perguntei mais. Mas havia um receio, um impedimento. Não é que meu pai tenha me proibido de perguntar sobre a questão do filho, mas me sentia um pouco desconfortável sobre o assunto. Em relação à minha mãe e ao meu pai.

O cantor e escritor Chico Buarque. / Luiz Maximiano
P. E isso se tornou uma obsessão ao longo dos anos? Porque você continuou investigando, principalmente após a morte de seu pai, em 1982. Até mesmo a editora que iria publicar o livro, a Companhia das Letras, contratou dois detetives para ajudá-lo na investigação.
R. Não, não, não eram detetives [risos]. Eram historiadores. Um deles era um brasileiro que, por acaso, estava na Alemanha quando comecei a escrever o livro, há três anos. É verdade que foi contratado pela editora. Ele conhecia um documentalista alemão especializado em imigração alemã no estado de Santa Catarina. Eles descobriram que meu irmão, na verdade, se chamava Sérgio Günther e havia sido adotado por uma família quando pequeno. A verdade é que, quando comecei a escrever o livro, tinha muito pouca informação. Mas nem precisava. Nem sequer pretendia encontrá-lo. A história não ia por aí. Mas aconteceu que, enquanto escrevia, um dos meus irmãos, que vive no apartamento da minha mãe, que morreu há cinco anos, encontrou em uma gaveta alguns documentos que tinham dados para puxar o fio. Eu tinha 50 páginas do livro, que deixei como estavam. Mas a realidade se intrometeu na redação para sempre.
P. A história que o senhor narra no romance é boa, mas a realidade na qual se apoia também.
R. Sim, deveria escrever outro livro, porque, no final, o romance acaba competindo com a história real, que é muito impressionante.
É verdade. Através desses documentos, Chico tomou conhecimento de duas coisas: que seu pai havia solicitado às autoridades alemãs que enviassem seu filho fornecendo a documentação necessária ou, pelo menos, conseguir que ele recebesse uma pensão que prometia enviar. A segunda é que a mãe biológica tinha decidido, em meio à convulsão enfrentada pela Alemanha da época, entregar o menino ao Estado para que fosse adotado. Uma carta enviada a seu pai, em 1934, pela Secretaria da Infância e Juventude de Berlim (e que terminava com um rigoroso "Heil Hitler!") pedia a Sérgio Buarque de Hollanda que, para que seu filho fosse adotado pela família alemã Günther, que estava interessada na criança, deveria encaminhar o mais rapidamente possível certificados que comprovassem a religião católica do pai. Chico, ao ler a carta, imaginou, com assombro e espanto, que as autoridades alemãs exigiam isso para que ficasse evidente que o pequeno Sérgio não tinha sangue judeu nas veias. Caso contrário, em vez de uma família qualquer, ele poderia ter sido transferido para um campo de concentração. Os historiadores finalmente conseguiram, em 2013, identificar o irmão, Sérgio Günther, que morreu em 1981, e localizar sua ex-esposa, filha e neta. Poucos meses depois, Chico viajava a Berlim para conhecer a outra parte de sua família e saber mais sobre seu meio-irmão.
P. E soube que seu irmão tinha sido um cantor...
R. Sim, ficou bem conhecido na Alemanha Oriental como cantor e apresentador de televisão. Quando soube que tinha sido cantor, senti uma emoção forte. E sabe, quando ouvi um de seus álbuns percebi que tinha a voz grave do meu pai. Porque meu pai gostava muito de cantar. E soava igual.
P. Tinham mais coisas em comum?
R. Ambos morreram de câncer de pulmão. Meu pai fumava muito. Quando conheci a família do meu irmão, sua viúva (uma de suas viúvas, porque ele se casou mais de uma vez) me disse que Sérgio Günther arrancava o filtro dos cigarros que fumava. Exatamente como meu pai. Coisas assim que arrepiam. Todo mundo lá me disse que minha música A Banda havia sido traduzida ao alemão e era bem conhecida na Alemanha Oriental, com uma letra muito diferente e um pouco absurda, na verdade. Portanto, não é estranho que meu irmão tenha realmente me ouvido cantar. É uma maneira de ter me conhecido um pouco, certo?
Demorei para descobrir que tinha um irmão. Era um segredo de família
P. Alguma vez teve curiosidade de saber quem era seu pai biológico?
R. Sua viúva me disse que, em um determinado momento, sim, que perguntou na Embaixada brasileira, mas na época a Alemanha Oriental era um país muito fechado, com poucas possibilidades de conseguir informação.
P. No livro, o protagonista, parecido com o senhor, rouba carros para se divertir. O senhor fazia a mesma coisa?
R. Sim. Ia com um grupo de adolescentes do bairro, eram os tempos de James Dean, rock and roll, de uma juventude um pouco rebelde. Por isso que nosso esporte era roubar carros, circular com eles pela cidade e depois deixá-los no fim do mundo. Fui para a cadeia por isso uma vez. A polícia me deu uma surra. Bom, mas isso já havia contado. Eu mesmo disse antes que descobrissem. Tive sorte porque no dia que me prenderam meus pais não estavam em casa, estavam viajando, e foi minha irmã que me buscou. Eu então era bastante..., enfim, dei muito trabalho para minha família.
P. Ao mesmo tempo, era muito bom leitor, certo?
R. Sim, é verdade. Foi também uma maneira de me aproximar de meu pai, que passou a vida entre livros. Eu diria que, antes de ser músico, queria ser escritor. Até que a música apareceu na minha vida e embarquei nela. Mas não abandonei a ideia de me dedicar à literatura. Nos anos setenta, publiquei meu primeiro romance, nos oitenta, o segundo. Desde então alterno as duas coisas. Quando faço uma, não faço a outra, porque me consomem muito. Quando estou escrevendo nem sequer ouço música.
P. Mas são atividades assim tão diferentes?
R. Para mim, sim. Muito. E ainda assim minha escrita é muito influenciada por minha música. Talvez algo se perca nas traduções, mas meus textos tentam carregar algum ritmo musical. Além disso, tenho que alternar as duas coisas porque, pelo menos no Brasil, é muito difícil para um escritor viver apenas de literatura. Os escritores trabalham como funcionários públicos, professores, jornalistas... E tudo isso está tão longe da literatura quanto da música. O fato de ser jornalista, por exemplo, não lhe dá a habilidade de escrever literatura, acredito.
P. Comenta-se que cada vez escreve mais e compõe menos.
R. Componho menos do que aos 20. É normal. A música popular é mais uma arte da juventude, com o tempo você vai perdendo, não sei, não o interesse, mas ela já não flui com a abundância daqueles primeiros anos. Tenho que me esforçar mais, procurar mais, é mais difícil. No começo você tem um milhão de ideias, tudo em torno serve para fazer uma canção. Depois vai ficando mais insípido, menos inspirador.
P. Ainda acredita que o melhor de um show é quando acaba?
R. [Risos] Eu realmente não gosto muito de fazer shows não, mas tenho de fazer. Quando lanço um novo disco, me dá vontade de sair por aí e cantar em público. Além disso, com isso depois posso passar dois anos escrevendo. Caso contrário, iria à falência.
P. Por que a música popular brasileira é tão conhecida e a literatura não?
R. Pode ser porque seja pior, mas acho que não. É verdade, por exemplo, que a Argentina é um povo mais literário do que o brasileiro. E os escritores brasileiros também jogam com uma desvantagem, porque o português é mais desconhecido. E a riqueza musical brasileira é facilmente exportável, não precisa de tradução.
P. Por outro lado, por que a música brasileira é tão aceita, tão apreciada?
R. Porque, principalmente depois da bossa nova, tem a influência negra, é filha do samba, mas com um toque de jazz, um toque harmônico. E também tem influência dos grandes compositores da música clássica. Veja: Tom Jobim, nosso grande mestre, era um conhecedor profundo de Chopin e Debussy, dos impressionistas, entre muitos outros. E tudo isso está em nossa música, misturado, junto com os boleros cubanos e os ritmos mexicanos. O Brasil não exclui, assimila. O resultado foi complexo, rico e único.
P. Como era esse mundo? Como era conviver com Jobim, Vinicius?
R. Ah! Eles... eram acima de tudo grandes amigos. Olhe aquela foto, estou com os dois. Eu realmente comecei a me emocionar de verdade com a música, a decidir fazer canções a sério depois da canção Chega de Saudade, composta por Tom Jobim e Vinicius e interpretada por João Gilberto. Eu os tinha em um altar. Já conhecia Vinicius porque era amigo do meu pai, mas, para mim, era como falar com um monumento. Por isso, a primeira vez que vim ao Rio para conversar com Tom Jobim, imagine, era um sonho. Com o tempo se tornaram meus amigos, meus parceiros, fiz muitas canções com eles, fui aceito nesse seleto grupo da música popular brasileira.
P. Foi Tom Jobim que disse que o Brasil não era um país para amadores, correto?
R. Sim, e assino embaixo. É um país único, fruto da colonização portuguesa, com emigrantes de todo o mundo, italianos, alemães, árabes, japoneses, com a marca dos escravos trazidos à força... E com origens indígenas antes disso tudo. Tudo isso está presente agora. Em São Paulo, sem ir muito longe, você pode procurar nomes indígenas em muitas ruas. Essas circunstâncias criam um país único.
P. O senhor sempre teve uma posição política clara e explícita. Se opôs à ditadura e apoiou Lula e Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores.
R. Sempre me perguntam quando há eleições. Eu tomo partido e não tenho qualquer problema em declarar isso. Sempre apoiei o PT, agora a Dilma Rousseff e antes o Lula. Apesar de não ser membro do partido, de ter minhas desavenças e de votar em outros candidatos e outros partidos em eleições locais. Mas sempre soube que o problema deste país é a miséria, a desigualdade. O PT não resolveu tudo, mas conseguiu atenuar. Isso é inegável. O PT tem melhorado as condições de vida da população mais pobre.
P. E como o senhor vê a situação atual?
R. Muito confusa, não há nenhuma maneira de saber o que vai acontecer nos próximos anos. A crise econômica é forte. É preciso tomar certas medidas impopulares. Ao mesmo tempo, a oposição é muito dura. E depois há uma onda de manifestações nas ruas que, na minha opinião, não têm um objetivo concreto ou claro. Entre aqueles que saem às ruas há de tudo, incluindo loucos pedindo um golpe militar. Outros querem acabar com o Partido dos Trabalhadores, querem enfraquecer o Governo para que, em 2018, o PT chegue desgastado nas eleições. O alvo não é a Dilma, mas o Lula; têm medo que Lula volte a se candidatar.
P. E, para terminar: como se vive sabendo que é o homem mais desejado do país?
R. Isso já faz muito tempo.
P. E continuam dizendo.
R. Não sei nada sobre isso. Sou tímido, um cidadão sério, um homem de família. Inventam histórias, criam lendas que não têm muito a ver com a realidade. Não sou o sedutor que comentam.
A entrevista termina e o cantor tenta chamar um táxi para o jornalista através de um aplicativo do celular. Mas não consegue. "Minha neta sabe, mas eu não aprendo", explica. Observa o bonito entardecer e diz: "Eu o acompanho." Coloca shorts, um boné que esconde o rosto e caminha, junto ao jornalista, rua abaixo pelo Rio de Janeiro, falando dos pais, dos livros, das famílias e da música.

Chico Buarque

Rio de Janeiro, 1944. Ele é filho do conhecido historiador Sérgio Buarque de Hollanda e da pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Começou a estudar arquitetura, mas abandonou o curso depois de dois anos, quando sua carreira como compositor e intérprete começou a deslanchar. Em 1966, conseguiu seu primeiro grande sucesso com a canção A Banda. Desde então, não parou de compor obras-primas como Apesar de Você, Construção, O Que Será (À Flor da Pele) e Cálice. É considerado um dos grandes nomes da música popular brasileira, ao lado de Tom Jobim e João Gilberto, entre outros. Em paralelo, desenvolveu sua carreira como escritor e dramaturgo. O Irmão Alemão, publicado pela Companhia das Letras, é seu quinto romance.

Obtido de: http://bit.do/chico-buarque-entrevista-ao-el-pais

Todos os direitos reservados ao jornal El País.

Geopolítica dos EUA é ameaça ao pré-sal - professor Raphael Padula

Energia

Geopolítica dos EUA é ameaça ao pré-sal

Raphael Padula, professor da UFRJ, afirma que entre os 10 maiores importadores de petróleo, apenas China e Índia estão fora do controle americano 
Jornalista: Alex Prado, publicado em 24/09/2015.
A geopolítica estratégica dos Estados Unidos é ameaça à soberania do Brasil sobre o pré-sal. Esta é a principal conclusão da palestra do professor Raphael Padula, da UFRJ, no seminário “Uma estratégia para o Brasil, um plano para a Petrobras”, promovido pela Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) e pelo Programa de Pós-graduação  em Economia Política Internacional da UFRJ, nesta quarta-feira (23), no Clube de Engenharia (RJ). Segundo Padula, a geopolítica dos EUA, no século XXI, tem como foco a garantia de acesso a recursos naturais indispensáveis tanto para eles, como para os aliados.
Entre os 10 maiores importadores de petróleo, apenas China e Índia podem ser considerados fora do controle estratégico dos EUA. Para o professor isto explica a importância da “tutela” que garante aos norte-americanos o apoio dos países aliados na defesa de seus interesses diretamente ligados às questões neoliberais, de garantia de mercados às empresas e serviços dos EUA.
Para confirmar seu raciocínio, Padula relatou as mudanças na política externa dos EUA no século passado, no pós-guerra e depois da dissolução da União Soviética. O fim da guerra fria levou a maior potência do planeta a eleger novas ameaças à paz mundial, da qual se julga o grande defensor, como o narcotráfico e o terrorismo.
Mas os altíssimos níveis de desenvolvimento da China trouxeram um novo ator ao cenário mundial que, associado ao nacionalismo de Vladmir Putin, na potência militar da Rússia, fazem frente ao poderio norte-americano. A China já é o segundo maior consumidor de recursos naturais do planeta, e tem poucas reservas. A Rússia, além do arsenal atômico, tem reservas de hidro carburetos indispensáveis, principalmente à Europa ocidental, grande aliada dos EUA.
Diante deste cenário e coerente com sua geopolítica, os Estados Unidos reforçam sua política intervencionista de garantir o acesso aos recursos naturais, tendo seus aliados como parceiros, diante da fragilidade deles na obtenção destes recursos.
No final da palestra, Padula trouxe esse cenário para a realidade da América Latina e, principalmente, para o Brasil. Segundo ele, a estratégia dos EUA é a de impedir o surgimento de potências regionais em áreas de abundância de recursos naturais. Geograficamente, o Brasil está estrategicamente localizado, além de possuir um território que representa mais de 50% do subcontinente sul-americano e com reservas consideráveis das principais commodities minerais.
Assim, o modelo proposto para a nossa região, segundo Padula, insere-se dentro da geopolítica dos EUA como países que devem ter suas Forças Armadas voltadas para o controle de conflitos internos, combate ao narcotráfico e ao terrorismo, mas incapazes de defender suas riquezas naturais. Papel que caberia aos Estados Unidos. Além disto, é necessário impedir o fortalecimento de associações como o Mercosul e a Unasul, contrapondo isto a políticas apenas de livre comércio.
Raphael Padula demonstrou como o giro na política externa brasileira, a partir de 2003, até então totalmente favorável aos interesses da geopolítica dos EUA, passa a incomodar a grande potência. O Brasil assume seu papel de protagonista em seu entorno estratégico, reforçando o ideal integrador do Mercosul, além de um espaço de livre comércio e expandindo suas ações rumo à África ocidental, vizinha do Atlântico sul.
Com a descoberta do pré-sal, as decisões brasileiras sobre a forma de exploração desta riqueza elevaram as tensões entre diplomáticas entre Brasil e EUA. O emergente protagonismo do primo pobre do sul incomodou. O primo rico tratou de reativar a 4ª Frota Naval, específica para o Atlântico sul; rejeitou a resolução da ONU que garantia o direito brasileiro nas 200 milhas continentais. E espionou, como revelado no caso Wikileakes.
Raphael Padula encerrou sua palestra afirmando que os interesses da geopolítica americana não podem permitir o surgimento de uma potência regional, detentora de recursos minerais estratégicos e, ao mesmo tempo, com uma empresa pública eficiente como operadora única da maior reserva de petróleo descoberta neste século.

Obtido de: http://bit.do/geopolitica-dos-EUA-ameaca-pre-sal

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A crise como álibi - Vladimir Safatle

A crise como álibi 

Vladimir Safatle
Professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo

Nos últimos dias, o Brasil tem acompanhado os debates a respeito do que fazer diante da crise econômica na qual estamos. Uma certa narrativa parece ter se consolidado. Trata-se da imagem de um país em "fase terminal" devido ao desequilíbrio fiscal pretensamente resultante da "gastança pública".
Neste sentido, não haveria outra saída a não ser aplicar a versão tupiniquim de um "choque de austeridade" baseado no "corte corajoso de gastos". Mesmo esta Folha, em editorial no último domingo (13), conclamou o governo a adotar tal caminho através, entre outros, da: "desobrigação parcial e temporária de gastos compulsórios em saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa revisão desses dispêndios no futuro". Caso isto não ocorresse, não restaria à presidente, ao dobrar-se à crise, "senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa".
Mas o que significa o caminho proposto? De fato, certo equilíbrio fiscal pode ser alcançado desta forma, mas a que preço? Pois há de se perguntar sobre qual país nascerá ao final deste processo de ajuste. Diria que toda reflexão sobre a situação brasileira atual deveria partir do fim, pois há fins distintos que podem ser alcançados.
Um país desigual como o Brasil e que aceitasse rever o seu padrão de gastos com serviços públicos caminharia para a precarização ainda maior das parcelas mais desfavorecidas de sua população. Como não poderá mais ter serviços mínimos de saúde e educação, a camada mais pobre terá de trabalhar mais, isto em um contexto de flexibilização e ausência de garantias de trabalho. A crise seria apenas um álibi para a intensificação da espoliação de classe.
Por isto, implementar propostas que têm circulado ultimamente, como cobrança por serviços do SUS e mensalidades em universidades públicas, significa aprofundar a espiral de miséria. Diga-se de passagem, uma crise não precisa de cortes em educação. Ao contrário, é neste momento que os investimentos em educação são mais necessários e estratégicos pois são eles que permitirão a abertura de novos caminhos para a economia. Por estas razões, não é difícil perceber que o país que sairia depois de tal "austeridade" seria um país mais desigual, mais injusto e socialmente violento.
Alguns poderiam perguntar se afinal haveria outra saída. Ela existe, mas é sempre apresentada de forma caricata e distorcida, como se fosse o caso de não permitir que o país encare a brutalidade de sua injustiça social. Pois estamos a falar de um país, como o Brasil, no qual há uma parcela da população que desconhece a crise, que neste exato momento tem seus rendimentos garantidos porque aproveita-se da valorização obscena do capital oferecida pelo sistema financeiro com suas taxas criminosas de juros.
Nosso país não é mais um país de industriais e empresários. Ele é um país de rentistas, ou seja, de gestores do capitalismo patrimonial. Um país onde uma classe vive sem trabalhar, apenas gerindo suas heranças e aplicando seu capital. Tais rentistas não conhecerão crise, assim como o sistema financeiro com seus lucros bancários recordes.
Se quisermos fazer o Brasil sair desta crise sendo um país mais justo e igualitário será necessário encarar corajosamente, na verdade, a desregulação tributária vergonhosa a que nossa população está submetida. Fala-se que a carga tributária brasileira "é a mais alta do mundo". Eis uma pura e simples mentira. Tentem saber qual a carga de países como Alemanha e França, por exemplo.
Na verdade, o Brasil é o país que tem a carga tributária mais injusta, pois ela incide basicamente sobre o consumo e produção, não sobre a renda. Os impostos estão nos produtos que compramos. Por isto, quem ganha menos paga proporcionalmente mais. Mais correto seria taxar a renda, as heranças, as grandes fortunas, os lucros bancários, obrigando os ricos a fazerem o que não fazem no Brasil ou seja, contribuírem.
Vejam, por exemplo, toda a hipocrisia em torno da CPMF. Eis um dos impostos mais justos que este país já teve, pois incide em quem mais usa o sistema financeiro, ou seja, os mais ricos. Os mesmos que tentam vender seus interesses de classe como se fosse interesse geral da população. Uma CPMF de 0,38%, por exemplo, renderia ao Estado R$ 60 bilhões. Perguntem quanto teríamos com imposto sobre grandes fortunas (tal estudo o governo brasileiro simplesmente nunca fez, por que será?).
O que é melhor: retirar a gratuidade do SUS, levar a classe média pobre a pagar universidades públicas ou obrigar os mais ricos a arcarem com a conta da crise?
Obtido de: http://bit.do/vladimir-safatle-a-crise-como-alibi

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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Petrobras obtem resultados superiores às concorrentes

Petrobras bate rivais em todos os indicadores




Dias atrás, numa conversa reservada, o chefe de um grande banco de investimentos no Brasil fez uma inconfidência. Afirmou que, se pudesse, investiria todo o seu patrimônio pessoal em ações da Petrobras, estatal brasileira que vem sendo castigada pelo mercado financeiro desde o início do ano. Só não o faz porque, como responsável pela corretora de um banco, sofre restrições legais para investir diretamente em ações da companhia.
Pessoas desse tipo, com acesso a informações qualificadas, estão convencidas de que algo muito inusual ocorre hoje com a Petrobras. Desde o início do ano, a ação da empresa comandada por Graça Foster recuou 26,7%, sem nenhuma razão objetiva. Além disso, analistas do Brasil e de fora vêm alardeando a tese de que a empresa, sem novos reajustes nos preços dos combustíveis, poderia ter sua nota de risco rebaixada e ficaria impossibilidade de investir nos campos do pré-sal.
Mas será que é realmente isso o que mostram os números da empresa? Nada disso. A produção no pré-sal bate recordes sucessivos, acima de 415 mil barris/dia, e os indicadores econômico-financeiros também são positivos.
Uma comparação feita entre os balanços da Petrobras com quatro grandes rivais internacionais – Exxon Mobil, Shell, Chevron e BB – revela uma verdade inconveniente para muitos arautos do caos: a Petrobras, ao contrário do que dizem, ostenta números mais saudáveis do que suas rivais.
A começar pela última linha do balanço: a do lucro. De 2012 para 2013, a Petrobras avançou 1%, em dólar, enquanto Exxon caiu 27%, Shell recuou 35%, Chevron perdeu 18% e apenas a BP avançou impressionantes 113%.
A foto mais ampla, com dados de 2006 a 2013, também traz dados muito positivos para a Petrobras. Entre as cinco, foi a única que expandiu sua produção (11%), enquanto as outras caíram ou ficaram no mesmo lugar: Exxon (–1%), Shell (–8%), Chevron (0%) e BP (–18%).
Outro ponto importante diz respeito aos investimentos. Das cinco, a Petrobras, de novo, foi a que mais cresceu, com um salto de 228%, contra 114% da Exxon, 85% da Shell e 152% da Chevron.
Ataque especulativo?
Diante dos dados, fica claro que a Petrobras, maior empresa brasileira, está sob ataque. Sim, um ataque especulativo, movido por forças que gostariam que o Brasil adotasse um novo modelo para a gestão das reservas do pré-sal – de preferência, seguindo a inspiração mexicana, onde a estatal Pemex aderiu a um regime de concessões aberto aos investidores externos.
No Brasil, desde a escolha do modelo de partilha, a empresa tem sido submetida a vários questionamentos. Recentemente, em editorial, o jornal Folha de S.Paulodefendeu um modelo mais mexicano e menos brasileiro. “A Petrobras não pode nem precisa se envolver em todos os blocos. O interesse nacional de produzir o máximo de petróleo no menor tempo possível – e de coletar impostos e royalties – será mais bem atendido se houver outros participantes na empreitada”, dizia o texto da Folha. Antes, a mesma tese havia sido defendida pela revista Exame, da Editora Abril.
No entanto, uma ampla reportagem do jornal El Pais, publicada na semana passada, afirmou que a Petrobras está anos-luz à frente da mexicana Pemex. Os dados financeiros revelam que ela também não deve nada a gigantes como Shell, Exxon-Mobil, Chevron e BP.
Confira, abaixo, uma análise comparativa dos balanços da Petrobras com os de suas grandes concorrentes internacionais:
Petrobras21_Indicadores
Petrobras22_Indicadores

O golpismo paraguaio e seus dilemas - por Tarso Genro

21/09/2015 - Copyleft

Os dilemas do golpismo paraguaio

A oposição formada por Bolsonaro, FHC e Eduardo Cunha chegou ao limite da sua força porque não tem densidade moral para tirar o país da crise de confiança.


Tarso Genro
EBC
Após quase dez meses de massacre diário, promovido pela ampla maioria da mídia tradicional, período em que Governo Federal mostrou graves limitações de natureza política e assim colaborou para o desgaste a que está submetido – após quase 10 meses – a oposição, capitaneada pela direita, ganhou: desgastou o Governo e, ao mesmo tempo, seu programa tornou-se hegemônico no Governo; promoveu o início de um “ajuste”, através do Governo, e mostrou-se contra o “ajuste”, porque ele é “fraco”; teve vários dos seus líderes denunciados, mas as denúncias não levaram a nenhum desgaste.
 
Só que agora oposição não sabe o que fazer, mas sabe que não pode ajudar o país a sair da crise, porque isso poderia bloquear as suas pretensões em 2018. Boa parte da oposição não quer o impedimento porque certamente o PMDB pediria que esta oposição assumisse as rédeas da macroeconomia do país.
 
Mas esta vitória é uma vitória parcial. Nem terminou, ainda, o primeiro tempo. Se é verdade, que já pode ter se formado uma maioria, na Câmara, para permitir o início do processo de impedimento, a  maioria qualificada para realizá-lo ainda está longe de se formar. E agora, a oposição, cujo centro dirigente espontâneo está formado por Bolsonaro, Eduardo Cunha e Fernando Henrique Cardoso – cada um com as suas funções – começa a apresentar fissuras. A verdadeira natureza do golpismo paraguaio é um ajuste de interesses políticos imediatos de uma oposição sem projeto e sem unidade, para chegar ao poder sem as urnas, que começa a expressar suas ambiguidades.
 
Bolsonaro pode estar se perguntado: “será que FHC gosta mesmo de mim, ou só está me utilizando?” Eduardo Cunha deve estar cogitando: “com o recebimento da denúncia do Janot, contra mim, vou conseguir manter o cargo, para depois poder chantagear o novo Governo?” Fernando Henrique deve estar calculando: “será conveniente, mesmo, estar no Governo agora, para fazer um ajuste ainda mais duro, como querem as agências de risco que eu amo?” A estas inquietações,  FHC deve somar mais uma, remota, mas que em momentos de radicalização política e de “enquadramento” dos políticos pelos editorais da grande mídia, pode acontecer: “será que alguns jornalistas, petralhas ou comunistas, não vão querer reviver a “injustiça” da chamada ‘compra de votos’, para a minha reeleição, nunca investigada?”
 
É uma hora de muitas angústias, porque os seguidos erros de condução política do Governo – combinados com a natureza do “ajuste” escolhido – deram à oposição a incrível oportunidade de, amparada pela mídia oligopolizada  (antes mesmo da posse da Presidenta para o segundo mandato), iniciar o  mais formidável processo de desgaste que um Governo eleito jamais sofreu na história republicana. Ocorre que este desgaste planejado continha uma promessa: a de que, como a crise pela qual o país atravessa se origina dos governos do PT e, especialmente, do primeiro Governo Dilma, basta removê-la para termos, novamente, o país em crescimento e em relativa paz.
 
Essa tese da oposição descartou duas questões, que agora a atormentam: os efeitos da crise mundial e a forma de resolvê-la são, na verdade, as duas motivações fundamentais do desgosto popular e, tanto na oposição que está “dentro” do Governo, como na oposição que segue as ordens de “fora”  (do tripé Bolsonaro-Cunha-FHC), está a defesa de um ajuste ainda mais “duro”. E restrições a políticas sociais ainda mais expressivas do que aquelas que estão em pauta até agora.
 
Este mesmo descontentamento contra Dilma, radicalizado, duplicaria contra um Governo que, ao substituí-la, não resolvesse imediatamente os problemas do país, pois a oposição semeou a ilusão de fazê-lo num passe de mágica, porque a questão da crise seria apenas uma questão de “iniciativa” e “competência”.
 
A nossa situação – dos que defendem o direito da Presidenta concluir o seu mandato – não é fácil, no quadro atual, mas, acreditem, a oposição chegou ao limite da sua força, porque não tem nem unidade programática nem densidade moral,  para tirar o país da crise de confiança e de estagnação econômica que nos encontramos.
 
Seria a hora de o Governo Dilma apresentar uma pauta organizada, de meia dúzia de compromissos estratégicos do seu Governo, que não fossem substituídos no dia seguinte, para dizer que seu Governo tem rumo e que vai sair da crise com crescimento, produção, emprego, diálogo social ampliado e organizado, com uma política de juros compatíveis com isso e, sobretudo, deixando claro que, quem vai pagar esta conta, não são os pobres,  assalariados de renda baixa, nem os setores médios que pagam um Imposto de Renda muito superior, proporcionalmente, ao que pagam os bilionários e os muito ricos. Se não der certo, pelo menos fica para a História que foi tentado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Operação Zelotes - a corrupção no CARF é muito pior que o Lava Jato

A letalidade da roubalheira do Carf

Por Elio Gaspari

Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. É colunista dos jornais Folha de São Paulo e O Globo. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'.

 



A Operação Zelotes, conduzida pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, está comendo o pão que o Tinhoso amassou. Ela começou em março e explodiu uma quadrilha de ex-conselheiros, parentes e amigos de conselheiros que vendiam decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, um órgão do Ministério da Fazenda. Depois de dois anos de investigações sigilosas e 2.300 horas de escutas telefônicas, foram cumpridos 41 mandados de busca e apreensão.
Passados na peneira, separaram-se 74 processos com cheiro de queimado, todos de peixes gordos. Num grampo autorizado pela Justiça, um ex-conselheiro disse o seguinte: "Aqui no Carf só os pequenos devedores pagam. Os grandes, não". Ou, noutra versão, mais crua: "Quem não pode fazer acordo, acerto –não é acordo, é negociata– se fode".
A coisa funcionava assim há muitos anos: uma grande empresa ou um grande banco era autuado em R$ 100 milhões pela Receita Federal, recorria ao Carf e liquidava a fatura reduzindo a autuação para algo como R$ 5 milhões.
Essa modalidade de corrupção é muito mais daninha do que tudo que se viu na Lava Jato. Num raciocínio cínico, a tia de um empreiteiro que cobrou R$ 100 milhões por uma obra que valia R$ 50 milhões, sempre poderá dizer que, apesar de tudo, a obra do seu sobrinho está lá. Já a tia de um magano que alugava por R$ 150 milhões um navio-sonda que o mercado oferece por R$ 100 milhões também dirá que o navio está no litoral de Campos, fazendo seu serviço.
No caso do Carf, a empresa que devia R$ 100 milhões pagou R$ 5 milhões à Receita e uns R$ 3 milhões à quadrilha. Só se produziu prejuízo e propina. Nem refinaria, muito menos navio-sonda.
Coisas estranhas aconteceram com a Operação Zelotes. Quando ela foi desencadeada, o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, julgou desnecessário prender pelo menos quatro acusados, contentando-se com os mandados de busca e apreensão. Jogo jogado. Em junho, o Ministério Público pediu e conseguiu seu afastamento.
Noutra ponta, saiu da Câmara dos Deputados um pedido de informações com algumas perguntas banais ao Ministério da Fazenda: Quais os valores de cada processo milionário julgado no Carf? Quais recursos foram aceitos? Em junho, o doutor Carlos Alberto Freitas Barreto, presidente do Conselho, informou que devido a uma mudança no sistema de armazenamento de dados esse detalhamento só poderia ser apresentado "em breve". Passaram-se três meses e nada.
Numa nova surpresa, o coordenador-geral de investigação da Receita Federal, Gerson Schaan, deu uma entrevista à repórter Andreza Matais na qual disse o seguinte: "O que a quadrilha fazia era direcionar o julgamento para uma Turma que tinha entendimento a favor do contribuinte. Trata-se de um caso de corrupção, não de sonegação". Em tese, tudo bem; na prática, a ver. O centro dessa questão só será mais bem entendido "em breve", quando o Carf fulanizar nomes e cifras.
Nos pixulecos do Carf podiam ocorrer três situações:
1) O contribuinte sabia que estava sonegando e dava a pedalada tributária porque esperava ganhar a parada no Carf. Nesse caso há corrupção e sonegação.
2) O contribuinte pode ter razão, mas comprou o "direcionamento". A Receita errou, mas falta explicar melhor como uma Turma entende uma coisa e outra vai na direção oposta, sobretudo sabendo-se, há anos, que uma quadrilha orientava o trânsito. Nesse caso, há um atravessador corrupto e um empresário corruptor.
3) No pior dos casos, o contribuinte tinha razão, mas foi informado de que iria para a lâmina se não pagasse o pedágio. Segundo um dos integrantes da quadrilha: "Se eu participar (...) eles têm mais ou menos 95% de chances de ganhar. Caso contrário, perderão, com certeza".
Essas diferenças poderão ser esclarecidas se a Opera
ção Zelotes entrar no estilo da Lava Jato. Pelo andar da carruagem, apesar dos esforços da Polícia Federal e do Ministério Público, ela está devagar, quase parando.
Corre o risco de ficar parecida com a Castelo de Areia, aquela que livrou a empreiteira Camargo Corrêa de qualquer suspeita. Passaram-se seis anos e agora a empresa está colaborando com o juiz Sergio Moro.

Obtido de:

http://bit.do/zelotes-pior-que-lava-jato


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