“Oposição em SP chega ao ponto de chamar ciclista de comunista”
Da antessala de seu gabinete, com vista para o Viaduto do Chá, onde
costuma receber a imprensa e se reunir com seus secretários, o prefeito
de São Paulo,
Fernando Haddad,
monitora a cidade por enormes telões. Em um deles observa o trânsito da
capital. Em outro, os alertas de risco de enchentes. Um terceiro expõe
um quadro com câmeras que na manhã da última quarta-feira retratavam, em
tempo real, a porta da Prefeitura, onde um pequeno grupo de sem-teto
acampava havia dias em protesto, e cada detalhe (incluindo rostos,
roupas e comércio de pedras) do intenso fluxo de usuários de drogas da
cracolândia –a única imagem daquela sala de situação que nunca é
trocada, a pedido dele.
— Por que a imagem da cracolândia sempre, prefeito?
—
É o projeto que eu mais tenho vontade de resolver.
É uma coisa que tem que persistir todos os dias. Não pode desistir do
território. Se você desiste do território ele vira outra coisa — diz, em
uma afirmação que poderia servir para explicar também a sua relação com
a própria cidade.
Às vésperas de entrar em seu último ano de mandato e em meio aos
primeiros movimentos das eleições municipais de 2016, que se desenham
para um
enfrentamento com sua ex-aliada Marta Suplicy, Haddad vive um momento de boas notícias. Ao menos neste último mês. Foi chamado de visionário pelo
The Wall Street Journal e ganhou elogios da prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Pergunta. Você está em uma maré boa de imagem...
Resposta. Eu não acredito muito nessas coisas (risos).
P. As medidas de trânsito têm mostrado efeito, as
mortes diminuíram. Elogios de jornal internacional, da prefeita de
Paris... Acha que a opinião pública pode começar a mudar?
R. Olha, hoje o nível de instabilidade nos humores é
tão grande... Minha convicção é: se você tem um projeto em que
acredita, use o seu mandato para executar esse projeto. Porque se você
depender dessa instabilidade de humores, vai se desviar do seu objetivo
central, que é deixar um legado para a cidade. Tem avanços
institucionais importantes acontecendo. As finanças de
São Paulo nunca estiveram em uma situação tão boa, mesmo com a
crise.
P. Como isso é possível?
R. Aquilo que ninguém acreditava, que era recalcular
a dívida de São Paulo [com a União], desde a assinatura do contrato em
2000, aconteceu. Com isso, tivemos uma redução de praticamente 50% da
nossa dívida. Ela era de 180% da nossa receita, hoje, é de 90%. Pela
lei, eu posso me endividar até 120%. Também se instalou a Comissão
Especial para apreciar a Emenda Constitucional que regula o pagamento
dos precatórios, elaborada pelos governos municipal e estadual de São
Paulo.
O nosso Plano Diretor e a lei urbanística também já estão em vigor.
Se o Governo federal não financiar o PAC de São Paulo como estava
planejado em 2013, eu tenho agora espaço para financiar o meu PAC. Eu
tenho 30% a mais de capacidade de endividamento para financiar essas
obras. Estamos falando de um pacote de obras que pode chegar a 14
bilhões de reais.
P. E quais serão as obras prioritárias?
R. Temos obra de drenagem em praticamente todas as
bacias. São 12 corredores de ônibus que estão sendo licitados. Alguns
estão em obras, outros podem entrar em obras se nós tivermos verba
federal ou liberdade para financiar esses investimentos. Eu sempre
falava de um tripé de desenvolvimento de São Paulo, que é a renegociação
da dívida, incluindo aí os precatórios; as leis urbanísticas, que
regulam o investimento privado na cidade, que está em ordem; e a
licitação do pacote de investimentos, que vai ter verba federal ou
financiamento [da prefeitura]. E é o maior pacote de obras da história
de São Paulo. Esse é o legado que nós vamos deixar e que, modestamente,
ninguém deixou.
P. Mas estamos entrando no último ano do seu Governo, que é um ano eleitoral. E quando a gente olha o
Plano de Metas, vê que muitas das coisas prometidas e até essenciais para a população da periferia não saíram.
R. Não é verdade. Tenho 123 metas, devo cumprir
totalmente entre 90 e 100 delas. Aí tem algumas muito difíceis. Por
exemplo: os três hospitais gerais. Estou com os três em obra neste
momento. O [do bairro do] Jabaquara vai ficar pronto neste ano. O [do
bairro de] Parelheiros está numa velocidade espantosa: 20 meses contados
de fevereiro deste ano, então vai dar tempo de entregar. O de
Brasilândia, que atrasou, está em obras. Mas atrasou porque eu tive que
refazer o projeto porque o Metrô requisitou a área e tive que deslocar o
hospital no mesmo terreno. Vão sair os três hospitais. Neste ano,
estarão prontas 15 unidades da Rede Hora Certa [espécie de posto de
saúde preparado para fazer pequenas cirurgias]. Estou licitando mais
cinco unidades e, com mais dez unidades móveis, serão 30 até o final de
2016.
P. E as creches?
R. Estamos atrasados com a meta. Mas neste ano o
[secretário da Educação, Gabriel] Chalita abriu 33.000 vagas. Estamos
falando de um ano em que a economia paulista vai ter 3% de recessão,
pelo menos, e já teve 2% no ano passado. E o Chalita bateu recorde de
abertura de vagas. Com esse mesmo esforço no ano que vem, talvez um
pouquinho mais, a gente consegue zerar a fila no dia da matrícula. Eu
prometi 172 equipamentos na educação, estou com 165 em obra. Prometi 32
universidades nos CEUs, estou com as 32 funcionando. E não prometi
coisas que eu vou fazer, como o Passe Livre para estudante, que custa
400 milhões de reais por ano. Daria para fazer dez CEUs a cada ano com o
valor do Passe Livre. Quantas metas eu poderia dizer que eu cumpri
oferecendo
Passe Livre
para o estudante? Tem a iluminação LED [troca de lâmpadas em postes,
que vão gerar economia de 50%], que eu não prometi. Mas se o Tribunal de
Contas do Município liberar a licitação eu vou ter feito a maior
Parceria Pública Privada de iluminação pública do mundo na cidade de São
Paulo e isso não estava no meu horizonte em 2012.
P. E na área de transporte público?
R. Acho que a qualidade do ônibus está melhorando. O horário de pico é difícil. Nós estamos tentando. Acho que a
licitação vai incrementar isso.
Mas falta metrô na cidade de São Paulo. O ônibus não consegue fazer
aquilo que tem que ser feito pelo metrô. E não tem expansão do metrô.
Estamos pegando o transporte de média capacidade e usando para o
transporte de alta capacidade. O papel da prefeitura é melhorar o
transporte público sobre pneus. Está melhorando. São 380 quilômetros de
faixa de ônibus.
P. O
Uber vai ser regulamentado?
R. Eu não posso antecipar porque ainda vamos ter uma
última reunião para ver como vai ficar. Nós vamos criar um marco
regulatório de São Paulo, inspirado em boas práticas internacionais que
eu acho que vai ser uma resposta efetiva de modernização do serviço, mas
com regulação estatal.
P. O que não será possível entregar?
R. Tem dois projetos que eu dependo muito do Governo federal, que é o PAC [para obras de infraestrutura] e o
Minha Casa, Minha Vida.
Eu posso amanhã dar ordem de serviço nessas obras. Elas estão
licenciadas, em ordem. Houve o anúncio de oito bilhões de reais para o
PAC em São Paulo, em 2013. Gastamos meio bilhão de reais em
desapropriação de terreno para o Minha Casa, Minha Vida. Eu estou com
28.000 unidades habitacionais em construção. Posso chegar a 55.000?
Posso. Dependo do quê? Do Minha Casa, Minha Vida 3.
P. Que
não vai ter dinheiro para novas obras.
R. Eu não sei se vai ter ou não. Da parte do
município, modestamente, não faltou nada. Desapropriamos os terrenos,
chamamos os empresários para investir no programa, aprovamos a
duplicação de zonas de interesse social pelo Plano Diretor, cadastramos
as famílias. Tem uma pendência? Tem! Eu dependo do Minha Casa, Minha
Vida 3. Eu falo isso para o movimento de moradia. Eles sabem que a
Prefeitura fez tudo o que está ao seu alcance. Isso aqui é um pacto
federativo, com alinhamento estratégico entre Governo do Estado,
município e União. Mas mesmo com a insegurança de repasse federal nós
continuamos licenciando as obras porque eu ganhei espaço de
financiamento, que antes eu não tinha. Se eu não tivesse repactuado a
dívida [com a União], eu estaria vendendo uma ilusão. Eu ganhei 30% do
meu Orçamento anual de espaço de endividamento. Isso dá entre 12 e 14
bilhões de reais. Financia tudo isso aí.
P. Mas dá para fazer tudo, com os outros projetos que precisam sair?
R. Daria para fazer tudo. Mas o financiamento está
travado neste momento. Não tem uma sinalização clara da União de que ela
vai liberar novos financiamentos. Estamos vivendo um ano atípico no
Brasil.
Nós temos que lidar com essa realidade. Quem é que poderia prever o que
está acontecendo? Agora isso vale para o Governo do Estado, para o Rio
Grande do Sul, para Minas Gerais.
P. Mas essa realidade afeta mais o PT. Nunca vivemos
um cenário tão polarizado. Há pessoas que veem o projeto na Cracolândia
e dizem que você negocia com traficante. Se caiu o trânsito, dizem que é
por causa da crise...
R. Mas aí é mentira, né? Você está perguntando para
mim como eu lido com a mentira? Faço uma política de redução de danos
que é um exemplo internacional e uma pessoa vem com uma crítica dessas?
Essa pessoa não está fazendo política, está rastejando. A única cidade
que diminuiu a lentidão no Brasil foi São Paulo. A crise só existe em
São Paulo? Essa crítica rasteira está em voga hoje. Mas eu não posso
lidar com esse tipo de sentimento, com esse grau de destrutividade. Essa
pessoa não está querendo construir um país e uma cidade decentes. Essa
pessoa está num nível de distúrbio que eu tenho que respeitar, mas
recomendar tratamento.
P. Mas essas críticas existem...
R. Eu tenho que dialogar com a parte sã da cidade,
com a parte construtiva. Se eu for entrar nisso, não tenho condições de
governar São Paulo. Críticas são benéficas, mas eu não levo isso que
você citou como crítica. Levo isso como parte de um problema mais
psicológico do que político. Eu acredito na força da argumentação.
Quando eu defender esses programas, eles vão se consolidar. E esse ruído
que é patrocinado e criado pela oposição, vai perder força. A oposição
em São Paulo está jogando no obscurantismo. A ponto de chamar um
ciclista de comunista. Quando se chega nesse nível... Eu sou uma pessoa
que acredita no Iluminismo, nas forças civilizatórias. A minha gestão,
sobretudo fora de São Paulo, é reconhecida como uma força civilizatória.
Eu sou um agente da civilização contra a barbárie.
P. É evidente que essas pessoas não votariam em você. Elas já são contra, independentemente do que você faça....
R. Mas nem eu votaria nelas, né? É recíproco! (risos)
P. Sim, mas existe uma grande parcela da população que votou em você e
que vai ser disputada por um mesmo discurso, pela Marta...
R. Eu não sou muito a fim de entrar nessa discussão, você sabe... (risos)
P. Mas vamos tentar...
R. Vamos, mas eu vou tentar escapar... (risos)
Porque, por incrível que pareça, está muito longe a eleição no Brasil.
As coisas que aconteceram de um ano para cá mostram o que um ano pode
fazer. Um ano é muito tempo no Brasil de hoje.
P. Quando se conversa com as pessoas na periferia,
nos acampamentos dos sem-teto, muitas respondem que votaram em você, mas
que agora não devem mais votar. Que não sentem na vida delas o reflexo
do que se espera do PT, que é a política social. Será possível
convencê-las de que o social ainda existe no governo petista?
R. O Minha Casa, Minha Vida não é um programa
municipal, é nacional. Ele depende do Governo federal, Estadual e
municipal. Se a verba da fase 3 for anunciada, vou entrar com todos os
meus contratos com a Caixa Econômica Federal no dia seguinte. Se isso
não acontecer, o movimento social vai ter razões para se queixar. E eu
vou explicar que São Paulo fez a sua parte. O que me cabe é falar a
verdade.
P. E é possível explicar para uma pessoa que está
esperando seu imóvel que a culpa é do Governo federal? E como dizer isso
se o Governo federal é do seu partido?
R. É óbvio que é uma situação delicada porque
independentemente de ser Governo do PT ou não, nós firmamos o
compromisso. É muito difícil explicar? Às vezes tenho que explicar até
aquilo que não é competência do município. Eu vivo tendo que responder
por segurança pública, atraso de obra do Metrô, fracasso do Monotrilho,
crise de abastecimento de água [todas atribuições do Governo do Estado]. Quando eu vou para a periferia, esses assuntos são recorrentes.
Política nacional
P. Há a perspectiva de uma eventual
queda da presidenta. Como lidar com um plano para a cidade diante desse cenário?
R. É muito desafiador o que está acontecendo. Vamos
tentar colocar em perspectiva. Eu acredito que em 2013 e 2014, o Governo
federal fez uma inflexão na política econômica. Eu não tenho nenhuma
razão para acreditar que não foi com a melhor das intenções porque eu
acredito que a presidenta tem compromisso. Mas o fato é que houve uma
mudança de rota, que tinha como pressuposto a ideia de que a economia
internacional ia retomar. E isso não aconteceu. Como a aposta não se
realizou, aquilo que era supostamente transitório, que eram as políticas
de conter preços administrados, desoneração, durou mais e provocou
desequilíbrios importantes na economia.
Obviamente que quando alguém fixa uma meta de garantir o emprego e renda, que era o grande trunfo do
Governo Dilma,
acaba tomando essa decisão. Também tivemos problemas internos, como a
falta d’água que comprometeu geração de energia elétrica barata...
Enfim, a tal da tempestade perfeita. Aquilo que era para ser temporal se
estendeu e provocou desequilíbrios reais. Aí vem a pergunta: esses
desequilíbrios são estruturais ou conjunturais? Do meu ponto de vista,
ainda que pudesse ter uma correção de rota, eram problemas conjunturais
que estavam em jogo, que poderiam sacrificar uma parte dessas conquistas
temporariamente, mas para uma retomada mais ágil.
O problema é que a
crise política acabou se tornando um problema maior do que o econômico. Porque ela está alimentando a
crise econômica.
Então, se a presidenta conseguir refazer um pacto político em torno da
governabilidade, ela tem efetivamente uma chance. Porque a economia
brasileira responde muito rapidamente a estímulos corretos. Nós já
vivemos isso, na crise cambial da virada do
Governo Fernando Henrique
[1999], que sofreu demais porque também fez uma aposta equivocada.
Apostas são feitas e, às vezes, se perde. A crise política agora é muito
mais severa do que a que o Fernando Henrique enfrentou. Esta corre o
risco de transformar problemas conjunturais em problema estruturais.
P. E acha que isso se resolve?
R. Se com a reforma ministerial ela recompõe a maioria e toma as medidas corretas,
recalibrando algumas decisões desse primeiro período, a economia
brasileira reage rápido e, com três anos pela frente, aí efetivamente
vai ter uma resposta. O quanto ela [Rousseff] vai recuperar do
prestígio, só o tempo vai dizer.
P. O PMDB é um agente desse custo político. No sábado [27 de setembro],
Michel Temer estava sendo colocado como candidato para 2018 pela militância do partido...
R. Seria interessante uma candidatura do PMDB em
2018. É um partido importante. É o maior partido do Brasil em número de
deputados.
P. Contra o
Lula?
R. Eu nem sei se o Lula será candidato.
P. No lugar de algum outro nome do PT?
R. Eu acho que estão aparecendo nomes. O Ciro Gomes se filiou ao PDT, a
Marina Silva conseguiu o registro da
Rede Sustentabilidade. O Brasil vai produzir suas lideranças, né?
P. Você faz parte do
Conselho Consultivo
da direção nacional do PT, que fez uma análise de conjuntura do
partido. Está citando vários nomes que não são do PT. Existe uma análise
do partido de que não deve disputar 2018?
R. Acho que não.
P. E uma análise sua?
R. Eu vi positivamente uma avaliação do Fernando
Pimentel em Minas, um estado importante. É um governador que pode
despontar. O Jaques Wagner ganhou três eleições no primeiro turno na
Bahia, terra do
Carlismo. Enfim, o PT vai ter candidato? O Lula
vai estar disposto a uma sexta campanha presidencial? Não sei... Ontem
estive com ele e ele usou uma expressão muito engraçada: falou ‘estou
parecendo um posto Ipiranga’ (risos). ‘Todo mundo vem aqui como se eu
fosse a solução para todos os problemas’, disse. O Lula é maior
liderança que o país já teve e hoje
está vivendo esses questionamentos.
O legado dele vai para registro histórico. Em 2018 ele pode estar em
condição de disputar. Citei três nomes do PT que poderão ser
candidatos...
P. Seria mais interessante para o PT se afastar em 2018 para recuperar a sua base ou disputar a eleição?
R. Sinceramente, hoje eu não sou capaz de prever
qual vai ser a atitude do PT. É difícil prever. Eu não tenho clareza do
quadro para o ano que vem, imagine para 2018? O momento é de
instabilidade. É como me perguntar, no meio de um tsunami, se vou pegar a
próxima onda.
P. Você diz que não tem a percepção do cenário político para o ano que vem. Não sabe se vai ser candidato?
R. Eu não estou discutindo política para o ano que
vem neste momento. Eu tenho que garantir que os projetos importantes
para a cidade sejam aprovados. Eu tenho muita coisa ainda em tramitação e
preciso de base de sustentação. Como tem o movimento dos partidos em
torno de candidaturas, eu não posso correr o risco de a cidade não ter
produção legislativa em função do realinhamento em torno de candidatos.
Essas mexidas que eu fiz no secretariado [especialmente a ida de
Gabriel Chalita, do PMDB, para a Educação] são para garantir que até 31
de dezembro do ano que vem a gente esteja governando. É isso. Agora,
isso pode se desdobrar numa aliança? Pode. Mas não é a minha preocupação
neste momento. A minha preocupação é a governabilidade, é garantir
quatro anos de mandato com o governo ditando como será a cidade. Agora, a
partir de abril, maio...
Até porque os acordos que são feitos hoje... Eu sou uma pessoa que se
choca um pouco com o mundo da política. Porque eu fui educado por um
camponês libanês. Para o meu pai, não se troca palavra. Não existe uma
pessoa voltar atrás na palavra. Isso é o que eu aprendi com meu pai e é
como eu sou. Mas, no mundo de hoje da política, nem o que está assinado
vale.
P. Fala em relação ao PMDB?
R. Não, eu falo isso em relação a todo mundo. Não se tem mais protocolo. Não se tem mais protocolo na política.
P. Você se sente traído por esse movimento de colocar a
Marta Suplicy para disputar a próxima eleição?
R. Não, não…Eu nem sei se isso vai acontecer. Mas eu
não estou me referindo a um partido especificamente. Eu estou me
referindo ao mundo da política de hoje.
P. Com a Marta na jogada são dois candidatos
disputando o legado do PT. Ela disse, inclusive, que agora as conquistas
do Governo dela, como o CEU e o Bilhete Único, passam a ser conquistas
do PMDB.
R. (risos) Eu acho a Marta uma política muito peculiar, mas eu não quero comentar as declarações dela.
P. Peculiar como?
R. Interessante… (risos) As declarações dela…
P. Ela tem circulado e falado muito mal do seu Governo.
R. Eu não tenho nenhuma vontade de comentar as declarações dela neste momento. Nenhuma.
P. Como o PT vai bater em alguém cujos legados são do próprio partido?
R. Acho que não é o momento de discutir estratégia
agora, sinceramente. E, se eu for candidato, eu jamais vou dizer pra um
jornalista qual vai ser minha estratégia um ano antes da eleição!
(risos)
P. É possível dizer que você está esperando ver qual vai ser o cenário para decidir se vai ser candidato ou não?
R. É possível dizer que eu não estou preocupado com
eleição agora. É possível dizer que eu estou preocupado com o Governo,
em função da movimentação dos partidos que estão acontecendo agora.
Estou consolidando uma base de sustentação do Governo para aprovar os
projetos que eu acho importantes para a cidade.
P. Caso não seja reeleito, teme o risco de ver desmontado o que fez?
R. Olha, a nossa democracia ainda não tem a
consistência que nós precisamos. O Brasil ainda não sabe diferenciar
política de Estado de política de Governo. Não existe isso no Brasil.
Isso é péssimo para democracia. A democracia não é só divergência,
disputa, como as pessoas às vezes entendem. Democracia é a disputa e o
consenso. É você disputar a divergência e construir a convergência. Essa
dinâmica é que faz o país crescer e não partidarizar tudo, vir alguém e
pintar de azul as ciclovias.
P. E vale a pena tamanho desgaste? Lidar com esse tipo de política?
R. (risos) Mas você sabe... Eu só aceitei ser chefe
de gabinete de uma secretaria municipal. Todo o resto não dependeu de
mim (risos). Eu aceitei o cargo de chefe de gabinete do João Saad, na
gestão da Marta. O resto foi consequência disso. A vida levou. Foram
circunstâncias. Quem imaginava a crise de 2005 [do
Mensalão]?
Eu ser nomeado ministro, o Lula me manter no segundo mandato, a Dilma
me manter no primeiro... O Lula me convidar para ser candidato à
prefeitura e eu ganhar a eleição. Mas não sei pra onde a vida leva
depois. Pode ser que seja para universidade.
Obtido de: entrevista-de-Haddad-ao-El-Pais
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