segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A elite da mídia brasileira bate cabeça: caso Youssef indispõe Globo e Folha de São Paulo

Petrobras

Caso Youssef indispõe Folha e Globo

Diretor da Globo, Ali Kamel afirma que emissora não conseguiu confirmar denúncias de "Veja" e classifica reportagem da "Folha" como "distorcida" 
 
A reportagem publicada pela revista Veja na quinta-feira 23, na qual constava a acusação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta reeleita Dilma Rousseff (PT) sabiam do esquema de corrupção na Petrobras, provocou uma indisposição entre a Folha de S.Paulo e a TV Globo.
Alberto Youssef está preso em Curitiba, sob os cuidados da Polícia Federal. Ele era o responsável por lavar o dinheiro do esquema de corrupção na estatal

No domingo 26, o colunista Nelson de Sá publicou na Folha uma análise sobre o comportamento da emissora na qual destaca o fato de a Globo não ter repercutido a capa de Veja no dia seguinte à publicação da reportagem, a sexta-feira 24 (ver texto abaixo). O colunista lembra que a capa da revista Veja só apareceu no Jornal Nacional, o carro-chefe do jornalismo global, após o protesto da União da Juventude Socialista (UJS), entidade ligada ao PCdoB, em frente ao prédio da editora Abril, em São Paulo. O JN deu a notícia no contexto de que as pichações na sede da editora que publica Veja consistiam ataque à liberdade de imprensa. Para Nelson de Sá, o fato de a Globo não ter repercutido a capa de Veja e não ter colocado em seus programas jornalísticos o conteúdo do último debate entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) seria uma indicação de que a Globo estava com "medo".
 Nelson de Sá



Ali Kamel

Nesta segunda-feira 27, a Folha traz uma carta de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, na qual ele rebate o texto de Sá e faz duras críticas ao jornal e ao colunista (ver texto abaixo). De acordo com Kamel, a Globo não repercutiu a capa de Veja na sexta-feira pois não "confirmou com suas fontes o sentido do que fora publicado" pela revista. Da mesma forma, diz Kamel, a Globo não repercutiu a capa da Folha de sábado 25 – também sobre a suposta ciência de Lula e Dilma a respeito dos desvios – pois não apenas não conseguiu confirmar seu teor como recebeu de suas fontes o diagnóstico de que ela estava "distorcida". Por fim, afirma o diretor da Globo, "ao confundir equilíbrio com medo, Nelson de Sá talvez se valha da própria experiência nos jornais em que trabalha ou trabalhou".

A reportagem de Veja foi considerada a última "bala de prata" da oposição para tentar evitar a vitória de Dilma Rousseff. A revista trazia a acusação em declarações do doleiro Alberto Youssef à Polícia Federal, que o prendeu durante a realização da operação Lava-Jato. Youssef assinou um acordo de delação premiada com a Justiça para detalhar o esquema de corrupção em troca de benefícios. A própria revista afirmava que Youssef não apresentou provas das acusações, no entanto.

No horário eleitoral da sexta-feira, a candidata do PT prometeu processar Veja, e prometeu investigar a corrupção na Petrobras "doa a quem doer". Na Justiça, o PT conseguiu proibir a editora Abril de veicular propagandas de sua capa, considerada "propaganda eleitoral", e também o direito de resposta diante da reportagem.

Na sexta-feira e no sábado, panfletos com a capa impressa de Veja foram distribuídos em várias cidades do Brasil. Na madrugada de sábado 25 para domingo 26 começou a circular o boato de que Youssef, internado em Curitiba, teria sido envenenado. A Polícia Federal e o hospital em que ele esteve desmentiram a informação, que circulou pelas redes sociais em uma velocidade impressionante, assustando a militância petista na reta final da votação e provocando um impacto que dificilmente poderá ser mensurado.
 
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Globo toca no assunto apenas no sábado, talvez por medo

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO Vinte e cinco anos depois, ao que parece, o debate na TV Globo foi novamente um dos pontos de inflexão na intenção de voto -quando o candidato do PT, antes Luiz Inácio Lula da Silva, agora Dilma Rousseff, parou de crescer, revertendo a tendência.
Segundo o Datafolha, 60% dos eleitores viram o programa na sexta (24), inclusive a pergunta inicial de Aécio Neves (PSDB) para Dilma, sobre a capa da revista "Veja" com a denúncia de que Lula e ela sabiam dos desvios na Petrobras.
Não que a Globo possa ser creditada, desta vez. Pelo contrário, a capa saiu via internet na noite da quinta (23), e a emissora atravessou a sexta, no telejornal da tarde e depois no "Jornal Nacional", sem tocar no assunto, olimpicamente.
O programa eleitoral de Dilma, no início da tarde de sexta, já havia levado ao ar uma resposta desproporcional -aliás, em contraste com o de Aécio, que só foi tocar na denúncia à noite e com relativa brevidade.
Apesar da descontrolada reação da propaganda petista e com os sites jornalísticos em peso abordando a denúncia, inclusive os mais favoráveis ao governo, para questioná-la, o "Jornal Nacional" se manteve irremovível.
O que mudou de vez o quadro, inclusive para a Globo e o "JN", foi o que aconteceu, não no debate, mas durante sua transmissão, com a pichação das paredes da Abril, que edita a revista, por um grupo de militantes.
E o tom da cobertura não poderia ter sido mais agressivo. A partir do telejornal da tarde de sábado, a maior rede do país -ainda que com uma fração da audiência que detinha em 1989, quando pôs no ar edição enviesada pró-Fernando Collor de debate com Lula- passou a ecoar a denúncia.
O que foi descrito como ataque à editora por um grupo "que apoia a reeleição de Dilma" serviu então de sustentação para reproduzir afinal a denúncia, tanto visualmente como em narração de uma repórter:
"Segundo a 'Veja', durante interrogatório na Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef, perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras, afirmou que o Planalto sabia de tudo. 'Mas quem no Planalto?', perguntou o delegado. 'Lula e Dilma', respondeu."
Na escalada de manchetes do "JN", Patrícia Poeta leu, sobre imagens das pichações: "Depois da publicação de uma reportagem sobre corrupção na Petrobras, um grupo de 200 pessoas ataca o prédio da Editora Abril".
Mas a Globo mudou, e não só na audiência. A manchete evitou citar Dilma e, antes de chegar à denúncia da revista, mais para o final do telejornal, deu longas reportagens simpáticas à petista e ao tucano, do cotidiano de campanha.
E não, desta vez, como se tornou regra para a emissora devido à repercussão dos desvios de 1989, não houve edição do debate, nem no programa da tarde, nem no da noite, para evitar maiores transtornos. Sua palavra-guia na cobertura foi equilíbrio -ou talvez medo.

Obtido de: Folha de São Paulo: "Globo está com medo."

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Diretor da Globo critica análise de Nelson de Sá

Nelson de Sá, em sua "análise" intitulada Globo toca no assunto apenas no sábado, talvez por medo, mostra do que é capaz um jornalista movido por preconceitos. A Globo não tem medo de nada. Não faz política, faz jornalismo. A própria Folha reconheceu isso, por meio de outros articulistas, ao elogiar as entrevistas que a emissora fez com todos os candidatos: pelo equilíbrio e consistência delas e porque as perguntas eram as que tinham de ser feitas, sem que os entrevistadores deixassem que os candidatos tergiversassem. A Globo segue seus princípios editoriais disponíveis para leitura em todos os seus sites. No capítulo da isenção, letra "Z", diz claramente que só repercute denúncias de outros veículos se puder confirmá-las por meios próprios. Ou se outros fatos de grande impacto advierem delas. Foi o que aconteceu. Na sexta, não confirmou com suas fontes o sentido do que fora publicado por "Veja". E, por isso, não publicou o assunto. Da mesma forma, não confirmou a manchete da Folha de sábado, porque nossas fontes a classificaram de distorcida. Mas o ataque ao prédio da Editora Abril, um ataque à liberdade de imprensa, não poderia ser ignorado. E ao ser noticiado, era preciso explicar que ele fora motivado por uma reportagem, sem endossá-la. Isso foi feito em matéria equilibrada, como regem os nossos princípios. Ao confundir equilíbrio com medo, Nelson de Sá talvez se valha da própria experiência nos jornais em que trabalha ou trabalhou. Ou, quem sabe, ele confunda irresponsabilidade com desassombro. A Globo não se pauta pelo que acham dela. Mas pelos princípios do bom jornalismo. 
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