Agência Reuters, jornalista Jeb Blount
(...) mesmo que a Petrobras tenha pago caro, a
refinaria de Pasadena, com capacidade para processar 100 mil barris por
dia, pode ter sido o melhor negócio em refino que a petroleira já fez em
pelo menos três décadas.(...)
(...) Cada barril de nova capacidade de refino da Rnest custará cerca
de 87 mil dólares à Petrobras, sete vezes mais do que em Pasadena, e
duas a três vezes mais do que em refinarias modernas semelhantes que
estão sendo construídas em outras partes do mundo.(...)
Obtido de:
http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRSPEA3A04220140411?sp=true
Por Jeb Blount
SÃO PAULO, 11 Abr (Reuters) - A compra de uma refinaria nos
Estados Unidos pela Petrobras por 1,2 bilhão de dólares virou tema de
campanha eleitoral, com a oposição afirmando que a estatal pagou 20
vezes mais que o valor justo pela unidade no Texas e que Dilma Rousseff
errou ao aprovar o negócio quando era presidente do Conselho da empresa
em 2006.
A investigação, porém, está provavelmente mirando na refinaria
errada: mesmo que a Petrobras tenha pago caro, a refinaria de Pasadena,
com capacidade para processar 100 mil barris por dia, pode ter sido o
melhor negócio em refino que a petroleira já fez em pelo menos três
décadas.
A Petrobras está pagando bem mais por novas refinarias no
Brasil. É o caso da Refinaria do Nordeste (Rnest), perto do Recife, a
primeira a ser construída no Brasil desde 1980. Com capacidade de 230
mil barris por dia, deverá custar 20 bilhões de dólares até ser
inaugurada, dentro de alguns meses.
Cada barril de nova capacidade de refino da Rnest custará cerca
de 87 mil dólares à Petrobras, sete vezes mais do que em Pasadena, e
duas a três vezes mais do que em refinarias modernas semelhantes que
estão sendo construídas em outras partes do mundo.
Desde que Dilma aprovou a construção da refinaria no Nordeste,
no período em que foi presidente do Conselho da empresa (2003-2010), seu
custo mais do que quadruplicou.
"Nunca ouvi falar de uma refinaria que custasse mais do que
isso", disse Sam Margolin, analista de refino na empresa Cowan and
Company, em Nova York.
"As refinarias são caras, e estouros de custos e
(interferências) políticas são comuns, mas isso ainda está bem além de
qualquer coisa que eu já tenha visto em qualquer lugar."
A Petrobras, incapaz de atender à demanda doméstica por
combustíveis com as refinarias locais, precisa importar derivados de
petróleo e sofre prejuízos com isso por causa dos controles de preços no
mercado interno.
Por isso, é essencial para a empresa obter mais capacidade de
refino a custo baixo, especialmente porque seu plano quinquenal de
expansão, num valor de 221 bilhões de dólares, está mais focado na
exploração de petróleo.
Os custos elevados contribuem para fazer da Petrobras a mais
endividada e menos lucrativa entre todas as grandes companhias
petrolíferas mundiais.
Dilma alega que não recebeu dados completos para a compra de Pasadena, e que por isso não pôde tomar uma decisão embasada.
A Petrobras já demitiu o diretor responsável pelo relatório que
recomendou a compra, e o ex-diretor de operações de refino foi detido
no mês passado em uma investigação sobre lavagem de dinheiro.
Críticos da compra afirmam que funcionários da Petrobras podem ter sido subornados para aprovar a transação.
A Petrobras não quis comentar sobre Pasadena, pois está
conduzindo sua própria investigação, mas José Sergio Gabrielli, que era
presidente da Petrobras na época da aquisição, disse nesta semana que a
compra de Pasadena foi "um grande investimento".
Dilma até recentemente era vista como franca favorita para
conseguir a reeleição em outubro, mas sua taxa de aprovação nas últimas
semanas caiu de 42 para 36 por cento, e os escândalos do tempo da
presidente na Petrobras podem prejudicá-la ainda mais.
CUSTOS ALTOS
É difícil comparar refinarias. A de Pasadena é uma instalação
antiga, que precisava de modernizações, ao passo que a Rnest é uma
refinaria nova e "limpa", com equipamentos tecnologicamente avançados e
eficientes. Mas ainda assim é cara, mesmo em comparação a unidades
novas.
O governo de Dilma Rousseff continua usando imagens da
refinaria, uma vez chamada de Abreu e Lima, nos comerciais de TV que
elogiam seus feitos, e a Petrobras atribuiu os estouros orçamentários à
dificuldade de prever os preços e prazos para equipamentos, instalações e
alvarás.
Para efeito de comparação, a saudita Aramco e a francesa Total
construíram em Jubail (Arábia Saudita) uma refinaria para 400 mil barris
diários por 10 bilhões de dólares, ou 25 mil dólares por barril --menos
de um terço do custo da Rnest.
A chinesa Sinopec planeja concluir no ano que vem em Guangdong
uma refinaria para 200 mil barris diários ao preço de 9 bilhões de
dólares (45 mil dólares por barril), quase metade do custo da refinaria
no Nordeste.
Em Port Arthur (Texas), a Aramco e a anglo-holandesa Royal
Dutch Shell gastaram 10 bilhões de dólares por uma refinaria para 350
mil barris/dia, o que também equivale a um terço do valor em Pernambuco.
Em nível mundial, refinarias novas para o processamento de
petróleo pesado estão custando "no máximo" 38 a 45 mil dólares por
barril, segundo um consultor de refino dos EUA que trabalhou em
refinarias da América do Norte, Oriente Médio, América Latina e Ásia.
Esse consultor, que pediu anonimato, considerou "exorbitante" o
preço da refinaria nordestina, mesmo levando em conta os atrasos
habituais em projetos na América Latina. Uma refinaria semelhante da
Ecopetrol na Colômbia teve um a dois anos de atraso e um aumento de
quase 50 por cento no preço, mas mesmo assim não chegou a custar 35 mil
dólares por barril/dia, o que ainda é menos da metade da Rnest.
No fim das contas, a refinaria de Pasadena tem uma boa chance
de dar lucro, ao passo que a Rnest provavelmente nunca cobrirá seus
custos.
As refinarias na costa norte-americana do Golfo do México, onde
fica Pasadena, geralmente lucram cerca de 10 dólares por barril
refinado, segundo Margolin, da Cowan and Company, e Alen Good, analista
de ações de empresas de petróleo e refino na Morningstar, em Chicago.
Se a Petrobras conseguir reproduzir essa margem de lucro em
Pernambuco, levará mais de 20 anos para cobrir os custos da refinaria.
No entanto, a divisão de refino da Petrobras perdeu quase 11 dólares por
barril refinado no Brasil em 2013 e quase 16 dólares por barril em
2012, segundo o balanço de 2013.
Com base no desembolso de 1,2 bilhão de dólares, a Petrobras
provavelmente conseguiria reaver o investimento de Pasadena em cinco
anos, segundo Good.
Isso pode se dever mais à sorte do que a um investimento
inteligente. Quando a compra foi aprovada, em 2006, a Petrobras estava
procurando formas de refinar seu petróleo nos EUA, pois havia a
expectativa de que esse país passaria a comprar mais petróleo bruto do
Brasil.
Desde então, o boom do petróleo de xisto nos EUA aumentou a
demanda pelo refino de petróleo, tornando mais valiosas as refinarias na
costa do Golfo.
A cifra de 1,2 bilhão de dólares também pode representar um
valor superestimado em relação ao verdadeiro custo de Pasadena, já que o
total incluía 595 milhões de dólares em outros itens, como uma parte do
estoque de petróleo da empresa Astra já presente na unidade, além de
multas e taxas legais. Good e Margolin disseram que esses custos
deveriam ser excluídos da avaliação da refinaria.
Quando isso é feito, chega-se ao valor de 486 milhões de
dólares pela refinaria propriamente dita, ou 4.860 dólares por barril
--valor que pode ser recuperado em um ano de operação a plena
capacidade. Ainda para efeito de comparação, 18 vezes menos que a Rnest.
"Faz pouco sentido se comover com Pasadena quando você
considera o que a Petrobras está pagando mais pela capacidade de refino
no Brasil", disse Good. "Com esses preços, faz mais sentido para a
Petrobras comprar refinarias nos EUA do que construí-las no Brasil."
Gabrielli também questionou a cifra de 1,2 bilhão de dólares,
alegando que na verdade a refinaria texana custou menos de 500 milhões
de dólares.
GASOLINA POLÍTICA
Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, de São Paulo,
disse que os investigadores deveriam se voltar muito mais para a Rnest
do que para Pasadena.
"Todas as refinarias da Petrobras são, de alguma forma, fora da
norma, e tenho poucas dúvidas de que, se uma CPI for realmente
instalada, isso vai aparecer muito claramente", disse ele. "Houve uma
séria má gestão."
A refinaria Rnest surgiu de um acordo entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, da Venezuela.
A ideia inicial era que a unidade recebesse 60 por cento do
petróleo do Brasil e 40 por cento da Venezuela, numa demonstração de
amizade internacional e como forma de impulsionar a indústria regional.
Mas para lidar com petróleo venezuelano, que é mais pesado e
com poluentes tóxicos do que o produto brasileiro, a Petrobras precisava
de duas linhas de refino separadas, e por isso foi preciso acrescentar
instalações adicionais.
Funcionários do governo já alertaram aos críticos de Pasadena
que uma investigação mais ampla poderá respingar sobre eles próprios.
Pernambuco, afinal, é um Estado que já foi governado por Eduardo Campos,
ex-aliado e hoje rival eleitoral de Dilma.
"A investigação sobre Pasadena deve continuar, mas Pasadena é
apenas a ponta do iceberg", disse Adriano Pires, diretor do Centro
Brasileiro de Infraestrutura, uma consultoria energética com sede no
Rio.
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